Na década de 70, a gaúcha Cristina Rosito participava do que seria a primeira prova de motociclismo feminino no Rio Grande do Sul. A partir daí muitas tantas se aventuraram pelas pistas gaúchas e recentemente ocorreu o que seria um marco no motociclismo feminino gaúcho, o lançamento da Copa CMM de Motovelocidade.
Aproveitando a quarta etapa do GP Gaúcho de Motovelocidade, realizada no autódromo de Santa Cruz do Sul, Cris Noskoski idealizou a copa, cujo grid seria formado a partir de convites feitos as suas confrades na Confraria da Mulher Motociclista (com sede em Passo Fundo). Convidou inúmeras motociclistas com o objetivo de obter o grid necessário para que a prova ocorresse segundo os padrões da Confederação Brasileira de Motociclismo que são no mínimo 6 motociclistas. Onze mulheres se propuseram a participar, dentre as quais, Cris convidou duas de outros estados que já possuem currículo com provas em pistas pelo país, tendo ambas já participado inclusive das 500 Milhas de Interlagos em janeiro deste ano, Etapa Brasiliense de Motovelocidade Feminina, entre outros: Liz Cordova Moreira (BMW1000cc-Piraí do Sul/PR) e Gabi Racing (YamahaR6-Vitória/ES). Apenas oito atenderam ao chamado, realizando assim um grid misto (600cc e 1000cc) que seria depois separado por categoria de cilindrada para a classificação e premiação: Cris Noskoski (Passo Fundo), Márcia Reis(Erechim), Regiane Rezende (Estrela), Hellencris da Silva (Caxias do Sul), Luana Farias (Passo Fundo), Julie Maioli (Bento Gonçalves) e as duas convidadas especiais.
A prova ocorreu sob chuva torrencial, em setembro passado, onde nenhuma das participantes estava preparada para tal, todas estavam com pneus utilizados para seco, quando o necessário seria o pneu de chuva. Tal aspecto elevou o grau de risco da prova que teve sua interrupção em 8 voltas (seriam 10 voltas), pois a chuva engrossou aumentando muito os riscos de quedas. Mesmo assim, nenhuma das garotas ‘amarelou’, partiram pra pista com determinação em concluir a prova da forma que havia sido prevista. Resultado desta prova foram os primeiros lugares de Luana Farias na categoria 600cc e Julie Maioli na categoria 1000cc.
Poucas mulheres se aventuram neste esporte dado o alto custo de preparação e equipamento e ainda sendo o patrocínio escasso, outras tantas dificuldades surgem no decorrer do caminho. Cris Noskoski conseguiu para as participantes treinamento nas escolas gaúchas gratuitamente, visando o preparo de cada uma, para que todas tivessem segurança; conseguiu patrocinadores para várias outras necessidades que englobam a montagem de um Box para a prova, onde estiveram todas as participantes; porém cada qual teve que arcar com suas despesas, utilizando seus recursos próprios ou o que conseguissem de ajuda.
Julie Maioli, natural e residente em Bento Gonçalves, na Serra Gaucha, teve apoio de duas empresas sendo uma de Caxias do sul, a Racer Motos com cavaletes para sua moto e a Sul Motors de Porto Alegre, com combustível e hospedagem; caso contrário sua participação seria difícil. Após inúmeras tentativas nas empresas locais e não obtendo êxito, montou sua equipe com amigos de Caxias do Sul, recursos para a compra de pneus vindo de Belo Horizonte, empréstimo de aquecedores e transporte para a moto também dos amigos de Caxias do Sul.
Julie desabafa: “…tentei o argumento mais objetivo e real que existia: mulher neste esporte, considerado exclusivamente masculino até pouco tempo atrás, dá visibilidade, leva mídia para o Box, somos poucas, causamos impacto pela novidade. Pilotos existem há tempos e nós começamos colorir os autódromos recentemente. As empresas que abraçarem a proposta estarão à frente e resultados só existem com investimento financeiro e tempo, mas foco da mídia é imediato. Tivemos prova disto, pois toda vez que entramos na pista para treinar (iniciamos em junho deste ano com a Rad Racing School de Caxias do Sul na pista de Guaporé) levamos mídia para o autódromo, com entrevistas, fotos. No dia da prova, a movimentação de repórteres, máquinas fotográficas, câmeras de vídeo, microfones, gravadores, foi intensa. E será sempre assim…” conclui ela.
É fato, resultados que em geral os patrocinadores aspiram não serão imediatos, segundo Julie Maioli se faz necessário muito treino, muito pneu, muito combustível e certamente alguns tombos ocorrerão resultando quebra de equipamento e substituição do mesmo. Assim sendo, só com patrocínio para que ela possa continuar. Hoje conta com a orientação de Carlos Barcelos, piloto e instrutor de Porto Alegre, que aposta na sua capacidade como pilota, pois os progressos obtidos desde o primeiro treino em junho até ultimo, a evolução é imensa denotando sua real capacidade. O uso de sua motocicleta particular é outro empecilho, diz ela muito preocupada, pois com risco de quedas, acaba obtendo menos do equipamento, do que ele pode oferecer.
Com a obtenção de primeiro lugar na categoria 1000cc, na sua estreia nas pistas, superando suas próprias expectativas ela se diz satisfeita, porém revela que tem muito a aprender e diz que necessita de apoio para obter equipamento e treinar muito e participar do campeonato do próximo ano junto ao grid masculino, caso não se consolide o grid feminino no RS.
A participação das mulheres nos grids dos campeonatos no país é pequena mas bem representada, com Erika Cunha, Sabrina Paiuta, Cris Trentim, Babi Paz, entre outras. Em Brasília, onde foi criada a categoria feminina de motovelocidade, já existe um Campeonato exclusivamente feminino paralelo às demais provas, onde a idealizadora do projeto, Vanessa Daya do MOTOCOMBATOM pretende levá-lo a todo país, arrecadando adeptas ao esporte e motivando mais mulheres a participar. Vanessa Daya montou uma equipe, a MOTOCOMBATOM, onde muitos empresários já se aliaram fazendo a equipe forte e competitiva a ponto de concluir o campeonato brasiliense em suas etapas, sagrando a própria Vanessa Daya como campeã.